Avenida Marquês de São Vicente, 576 - Cj. 2207 e 2208, Barra Funda - São Paulo/SP
  • (11) 2548-9806
  • (11) 2645-0379

Mais do que prestação de serviços...

Uma parceria!

Por que a inflação não é o perigo

Algumas pessoas com faro hipersensível dizem que o cheiro de inflação futura está no ar. Como assim?

Fonte: EstadãoTags: inflação
Algumas pessoas com faro hipersensível dizem que o cheiro de inflação futura está no ar. Como assim? Então não estamos em deflação neste exato momento? A resposta é sim. Mas, aparentemente, para os muito "falcões", as atividades recentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) conjuram visões de inflação.

O Fed está mantendo as taxas dos mercado interbancário perto de zero e criou uma montanha de reservas bancárias para combater a crise financeira. Sim, essas medidas são incomuns, mas estes são tempos incomuns. Concluir que o Fed está nos levando à inflação supõe um grau de incompetência com o qual eu simplesmente não concordo. Permitam-me explicar.

Primeiro, o perigo nítido e presente, tanto agora como nos próximos um ou dois anos, não é a inflação, mas a deflação. Usando a mudança em 12 meses do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) como medida, a inflação vem sendo negativa por três meses consecutivos.

É fato que a queda dos preços do petróleo, agora encerrada, foi a principal razão da deflação. A inflação do IPC, que exclui os preços dos alimentos e do petróleo, vem se mantendo consistentemente na faixa de 1,7% a 1,9% por seis meses consecutivos. Mas a história nos ensina que economias fracas arrastam para baixo a inflação - e a nossa ficará fraca por algum tempo. Inflação básica perto de zero, ou até negativa, é uma possibilidade viva para 2010 e 2011.

Ben Bernanke, presidente do Fed, é um estudioso atento dos anos 30 e ele e seus colegas vêm trabalhando horas extras para desviar a bala da deflação. Para isso, cortaram as taxas de juros interbancárias para virtualmente zero em dezembro passado e de lá para cá se apoiaram numa variedade de políticas extraordinárias conhecidas como alívio quantitativo para restaurar o fluxo de crédito.

Essas políticas implicam basicamente criar novas reservas bancárias, ora comprando ora emprestando uma variedade de ativos. Mas o alívio quantitativo é universalmente considerado um remédio fraco em comparação com o corte das taxas de juros. Por isso, o Fed está administrando uma grande dose - que é dele que estão vindo essas reservas.

A montanha de reservas nos balanços de bancos, por sua vez, encheu de apreensão os falcões da inflação. Mas seus receios são equivocados. Para compreender por que, comecemos pela economia básica sobre atividades bancarias, dinheiro e inflação. Em tempos normais, os bancos não querem excesso de reservas que não rende nenhum lucro. Por isso, rapidamente emprestam quaisquer recursos ociosos. Em tais condições, as expansões de reservas bancárias pelo Fed acarretam expansões do crédito e da oferta monetária e, se houver um excesso disso, um aumento da inflação.

Em temos anormais como estes, porém, fornecer a bancos assustados as reservas de que precisam não alimenta nem o crescimento monetário nem o do crédito - e, portanto, não é inflacionário. É mais como uma versão ampliada do que o Fed faz toda temporada natalina. O Fed sempre coloca mais moeda em circulação durante esse período de animação das compras porque as pessoas precisam dela, e depois retira a moeda "em excesso" em janeiro.

Os verdadeiros falcões da inflação se preocupam com essa última etapa. Será que o Fed vai realmente retirar todas essas reservas coma a velocidade suficiente quando a tempestade amainar? Se não, vamos de fato ter inflação.

Embora o Fed não seja infalível, eu defendo três pontos importantes: 1) As possibilidades de erro existem dois lados. O Fed poderia errar retirando as reservas bancárias com excessiva lentidão, levando à alta da inflação. Mas também poderia errar retirando as reservas com excessiva rapidez, obstruindo a recuperação e levando à deflação. Não consigo ver por que defender a estabilidade de preços deveria causar preocupação sobre um tipo de erro, mas não sobre o outro.

2) O Fed está consciente do problema da saída. Ele está planejando para ela, é bastante competente para cumprir suas responsabilidades e se comprometeu com uma meta de inflação de pouco menos de 2%. Claro, nada disso garante que o Fed atingirá o alvo. Ele poderia errar e produzir, por exemplo, uma inflação de 3% ou 4% no fim da crise - mas não de 8% ou 10%.

3) O Fed começará o processo de saída quando a economia ainda estiver abaixo do pleno emprego e a inflação, abaixo da meta. Então, um leve aumento da inflação será bem-vindo.

*Alan S. Blinder é professor de economia e assuntos públicos na Universidade Princeton e ex-vice-presidente do Federal Reserve. Ele aconselhou muitos políticos democratas.